Geralmente, a emigração portuguesa fica um segredo quase familiar, e não se fala muito das razões, da chegada, e mais ainda, da dificuldade de fugir de um país sob ditadura. José Luís Peixoto conta neste livro simplesmente chamado Livro a história do Ilídio e da Adelaide que fugiram de Portugal em 1960, da adaptação deles a um pais que desconheciam, do qual não falavam a língua, dos encontros no caminho, uns miseráveis com ladrões, outros consideráveis de coração aberto que os ajudaram nesta experiência.
Separados pelos azares da vida, trataram reencontrar-se em Paris, sem saber um do outro, vivendo em Saint-Denis e em Champigny, ele a buscá-la, ela a apaixonar-se pelo Constantino encontrado na biblioteca onde trabalha, mediante o livro que lhe ofreceu o Ilídio quando se namorou dela. Este livro, pedra angular deste romance, é o traço de união entre os namorados dantes e os novos parisienses que vão se comunicar com círculos à volta de palavras seleccionadas com um lápis, mas também é o livro que o leitor tem nas suas mãos, o livro das histórias de todos os emigrantes, o da do José Luís e dos pais dele também.
O que seria a França? A Adelaide sabia três coisas acerca do país para onde se dirigia: na França, as pessoas tinham máquinas que faziam a lida da casa, que varriam ochão, que lavavam a loiça e a roupa, braços de ferro; na França, as pessoas só andavam de automóvel, mesmo para ir à padaria; na França, as pessoas comiam carne de cavalo cozida. Esta última informação era a que mais espécie lhe fazia, tinha pena dos bichos. Também já tinha ouvido falar da cidade de Paris, conhecia o nome, e também já sabia que os franceses falavam estrangeiro. Como iria entender-se num lugar em que toda a gente falava estrangeiro e comia cavalo?Livro (editora Quetzal, 2010, 263 páginas), escrito por José Luís Peixoto, nascido em Gualveias em 1974.
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