Saturday, April 5, 2014

O sol se põe em São Paulo, Bernardo Carvalho

O sol se põe em São Paulo, Bernardo Carvalho

Quando a dona de um restaurante japonês em São Paulo pergunta ao narrador se ele ser escritor, isto raviva o seu desejo de sê-lo. Então vai descubrir a história da imigrante mesclada à do Japão da Segunda Guerra, uma história de amor complexa, um triângulo amoroso entre uma moça de boa família, um filho de industrial e um ator de kyōgen, o teatro japonês cómico.

Mas alguns detalhes faltam na história difícil que ela conta e da qual é protagonista, e o narrador, agora levado pelas personagens, vai dever destrinçar os nomes verdadeiros dos falsos, e a história escondida atrás da contada.
Durante muito tempo, eu tentei fugir como o diabo da cruz de tudo o que fosse japonês (vinha daí a minha repulsa e a minha ignorância da literatura japonesa). Eu podia nunca ter pisado no Japão, mas por muito tempo tentei acreditar que era onde ficava o inferno. Até minha irmã decidir se mudar para lá, apesar de todos os meus argumentos para dissuadi-la, refazendo em sentido contrário o caminho dos bisavós, porque ganharia mais como operária de uma fábrica de carros em Nagóia do que como professora universitária em São Carlos (o que lhe restava depois de termos perdido tudo com o negócio de luminosos do meu pai), e eu entender que uma maldição pairava sobre nós e não adiantava me debater nem tentar convencer ninguém. O inferno era aqui mesmo.
Gostei muito da mistura das histórias, a do presente com a personagem principal ouvindo a narração da Setsuko, e a dela, ou seja esta história repleta de máscaras como num teatro, onde todos têm outra cara, e o paralelo com a personagem da raposa do kyogen que está interpretada por um ator já presente na peça, mas sem disfarce, e tão bom nisto que os espectadores sabem quem é de antemão. Acho mesmo que mereceria uma segunda leitura por esta razão só.

O sol se põe em São Paulo (editora Companhia das Letras, 2007, 168 páginas), escrito por (Rio de Janeiro, 1960), escritor e jornalista brasileiro.

2 comments:

  1. Valeu a dica! Pelo seu texto, lembrou-me um pouco Nihonjin, de Oscar Nakasato, que também trata da imigração. Anotado :-)

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  2. Não conheço este livro, assim que vai ficar na minha lista de autores para ler. Obrigado.

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