Em capítulos curtos, episódios parecendo quase contos, descreve-se a vida de uma família portuguesa durante o siglo vinte, na Revolução, na ditadura, na Guerra Colonial. Mas pouco a pouco revela-se a história do Duarte e da relação dele com a musica do Mozart, do Beethoven, do Bach. O miudo que se arrancou as unhas, a professora de canto dele, o porquê do distanciamento dele com o piano, até deixá-lo completamente. A compreenssão das razões, a aceitação.
Duarte terminou o relato dos três episódios da mesma forma que começara: cruzando as pernas. O médico acendeu um candeeiro de pé alto que se encontrava junto à secretária, e os objetos em redor readquiriram uma existência concreta, contribuindo de forma evidente para que dentro do consultório voltasse a reinar um profundo silêncio.O teu rosto será o último (edição Leya, 2012, 205 páginas), escrito por João Ricardo Pedro (Reboleira, Amadora, 1973), escritor português vencedor do Prémio LeYa em 2011 por este romance.
Até que o médico lhe perguntou se, nos três casos, a música que estava a tocar era a mesma. Duarte respondeu que sim, consciente de que ocultara, até então, esse facto. Nos três casos, estava a tocar um prelúdio de Bach. O médico quis saber qual o prelúdio. Duarte respondeu: o BWV 867, em Si bemol menor. E acrescentou, na tentativa de desvalorizar esse dado, que já o havia tocado dezenas de vezes antes. Talvez centenas.
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