Wednesday, May 8, 2013

Um conto

O pescador despertou com o raiar do sol. O mar estava calmo, sem ondas nas primeiras luzes do dia. Tinha dores por todas partes, estava tudo ensopado pela tempestade da noite.

O barco era apenas capaz de flutuar, o mastro destroçado, a vela, ou o que ficava dela, em farrapos.

Na água, prendida no bordo da barca, a rede tinha nas malhas dela uns detritos do mar, no meio dos quais se podia ver um peixe tão grande que não tinha podido caber na barca, se estivesse sido em tão mau estado.

O pescador usava o único remo que sobrava para dirigir o barco para a costa. Estava delirante de sede, as mãos dele estavam fendidas pelas bolhas, tinha os olhos semi-abertos para os proteger do sol. No seu delírio, ouvia uma ladainha lamurienta que se misturava com o som das ondas contra o barco.

Devia lutar contra ele mesmo para continuar a remar hora após hora. Mas o peso do peixe era tão grande que tinha de escolher: ou remar até a costa deixando o peixe lá e salvar a vida, ou expor-se a morrer no mar entando levar o peixe. Depois de um episódio de delírio ainda mais agudo, desatou a rede da barca.

Para lhe agradecer, a sereia puxou o barco até à costa.

Desde então, jamais a rede do pescador voltou vazía com a ajuda da nova amiga dele.

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