Thursday, October 24, 2013

O homem duplicado, José Saramago

O homem duplicado, José Saramago

Qual seria a sua reação se encontraria-se com o seu duplo perfeito num filme de cinco anos atrás, com os mesmos cabelos e o mesmo bigote que tinha nesta época? É o que se passa com Tertuliano Máximo Afonso, professor de História que vive sozinho com uma leve depressão.

O encontro vídeo muda a vida deste divorciado com uma vida bem arrumada, com os seus colegas que riem demais, com a sua relação de seis meses que não va para lugar nenhum com a Maria da Paz, com os telefonemas à sua mãe, até com o seu amigo o senso comum com quem tem conversas quase filosóficas.
Para o relator, ou narrador, na mais do que provável hipótese de se preferir uma figura beneficiada com o sinete da parovação académica, o mais fácil, chegado a este ponto, seria escrever que o percurso do professor de História através da cidade, e até entrar em casa, não teve história. Como uma máquina manipuladora do tempo, mormente no caso de o escrúpulo profissional não ter permitido a invenção de uma zaragata de rua ou de um acidente de trânsito com a única finalidade de encher os vazios da intriga, aquelas três palavras, Não Teve História, empregam-se quando há urgência em passar ao episódio seguinte ou quando, por exemplo, não sesabe muito bem que fazer com os pensamentos que apersonagem está a ter por su própria conta, sobretudo se não têm qualquer relação com as circunstâncias vivenciais em cujo quadro supostamente se determina e actua. Ora, nesta exacta situação se encontrava o professor e novel amador de vídeos Tertuliano Máximo Afonso enquanto ia guiando o seu carro.
José Saramago mostra o mesmo estilo do que usualmente, o seu uso minimalista dos pontos finais, mas também o descascamento do menor pensamento e da mínima motivação das seus personagens.

Um filme baseado neste romance estrenou em junho de 2014, Enemy, por Denis Villeneuve, com Jake Gyllenhaal.


O Homem Duplicado (editora Companhia das Letras, 2002, 318 páginas), escrito por (1922-2010), escritor português, Prémio Nobel de literatura em 1998.

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