Saturday, December 21, 2013

O miúdo que pregava pregos numa tábua, Manuel Alegre

O miúdo que pregava pregos numa tábua, Manuel Alegre

Escrito à primeira pessoa, «O miúdo que pregava pregos numa tábua» não usa muito o eu. Prefera utilizar expressões contornadas, perifrases vindo de um pasado que talvez possa ser o do narrador ou não, a memória enganando-se com tantos episódios da televisão ou do cinema que nem sabemos se todas as nossas memórias são verdadeiras ou não.

Assim o auto flutua entre as épocas, de miúdo no Porto até a guerra em Angola, das primeiras experiencias sexuais com a criada, do piano que toca naturelmente sem tê-lo aprendido ao ritmo da poesia.
Mas onde é que tudo comeceu? Talvez num lugar chamado Chãs, em Águeda, onde uma velha prima, antes do miúdo entrar para a escola oficial, tenta ensinar-lhe a ler. Nunca mais aprendo, se calhar sou burro, diz o miúdo que pregava pregos numa tábua e que, nessa altura, devia ter quase seis anos. Às vezes sobe para cima de uma cadeira e recita: Lá vão elas / As caravelas. Foi-se o nome do autor e o resto do poema. São os primeiros versos que o miúdo, suponho que eu próprio, aprendeu de cor. Ficarão para sempre dentro de mim.
O miúdo que pregava pregos numa tábua (editora Dom Quixote, 2010, 111 páginas), escrito por , nascido em Águeda em 1936.

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