As mulheres de Maria Judite de Carvalho foram partidas pela vida e pelo amor, doravante incapazes de viver e amar, refugiadas na solidão dos anos que passam todos iguais, do tempo que não cura, esperando apenas tornar-se velhas, por fim asexualizadas de uma maneira socialemente aceitável.
A Mariana testemunha da sua vida, nem feliz nem infeliz, porque sendo nada não tem direito à nada, especialmente aos possessivos. A ação não serve para nada, e compartilhar sus sentimentos também, pois escreve cartas que, pensando bem, não vale a pena mandá-las. Está de acordo com o destino que força-a a agir e também a ficar quieta, a acreditar nas pessoas e a deixá-las tombar das mãos abertas. E quando por fim sabemos do ex-marido e da sua esposa: têm a vida que ela queria. O marido apaixonado, dois filhos cujo nome do primeiro é Fernando, como o Fernandinho que perdeu ainda gravida.
E não posso. Sinto-me violada e virgem. Muitas coisas em mim e completamente vazia. Vazia porque até a esperança se foi. A esperança mas não o meu desejo de viver. Mesmo neste quarto que tem um cheiro mau que eu já não sinto, mesmo com o António longe de mim e o Fernandinho a beijar uma mãe que não sou eu, mesmo assim eu queria viver. Como sei. Como posso. E a vida a gastar-se cada dia mais, a gaster-se sem eu a ter vivido.Neste livro de contos, encontram-se Tanta gente, Mariana, mas também A vida e o sonho, A avó candida, A mãe, A menina Arminda, Noite de Natal, Desencontro e O passeio no domingo.
Tanta gente, Mariana (editora Europa-América, 1988, 120 páginas), escrito por Maria Judite de Carvalho (1921-1998), quem viveu em França e na Bélgica. Casada com Urbano Tavares Rodrigues, a sua fama de escritora foi escondida trás da do seu esposo.
No comments:
Post a Comment