Wednesday, April 24, 2013

A majestade do Xingu, Moacyr Scliar

A majestade do Xingu
Noel Nutels (Ananyev, 1913 — Rio de Janeiro, 1973) foi um médico dedicado à causa indígena no Brasil. Ele dirigiu o Serviço de Unidades Sanitárias Aéreas após ter sido trabalhado no Instituto Experimental de Agricultura e no Serviço de Proteção ao Índio (a atual Fundação Nacional do Índio). Moacyr Scliar escreveu uma biografia sob a forma de um romance, A majestade do Xingu, em 1997. Nele, o narrador, criança e amigo do Noel durante a travessia do Madeira da Alemanha ao Brasil do inicio dos anos 20, conta ao seu doutor a sua vida, do shtetl da Rússia onde um pogrom era sempre temido, da chegada do Exército Vermelho na aldeia e da decisão do pai de se ir embora.

Mas enquanto Noel Nutels se formava em medicina, ele aprendava a vida de José de Anchieta no colégio público do Bom Retiro, e não se encontraram mais. Durante toda a sua vida, escreveu-lhe cartas, umas imaginárias, outras falsas para poder se reconciliar com o seu filho adolescente rebelde. É uma história de amizade unívoca, a de um lojista e de um doutor sanitárista.
Minha vida foi se tornando uma rotina. Ia à loja todos os dias, sábado, inclusive; aos domingos mamãe preparava um almoço especial e depois eu ia ao futebol – era corintiano, mas não fanático. Tinha alguns amigos, gente que, como eu, começara a trabalhar cedo. À vezes saíamos para tomar uma cerveja e aí conversávamos, e falávamos de planos, havia um rapaz, bisneto de cabalista, que pretendia ganhar muito dinheiro estudando os números da Bolsa e decifrando, mediante a cabala, a mensagem neles contida; mas nunca saiu disso, do plano; deu para beber, era despedido de todos os empregos, acabou nacadeia por roubo.
E Noel? Eu não tinha a mínima idéia de onde andava, o que estava fazendo. Só mais tarde, quando se tornou famoso e começaram a escrever sobre ele, pude reconstituir sua trajetória.
A majestade do Xingu (edição Companhia de Bolso, 2009, 208 páginas), escrito em 1997 por (Porto Alegre, 1937 — 2011).

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